Sou pai solteiro, a mãe da minha filha deixou-a comigo quando era bebé, e criei-a sozinho. Agora a minha filha tem 14 anos, noto que já tem interesse pelos rapazes e estou preocupado pois ela qualquer dia vai começar a namorar e eu não sei como abordar o tema da sexualidade. Será que devo conversar com ela sobre isso?
António, Odivelas
Caro leitor
pela sua pergunta vejo que é um excelente pai, pois tem noção de que, por mais que lhe custe, a sua filha se está a transformar numa mulher. É bastante importante que os jovens sejam bem orientados nesta fase de desenvolvimento e que sintam que têm alguém com quem podem conversar e a quem podem colocar dúvidas quando estas começam a surgir. É normal que se sinta pouco à vontade a falar sobre sexo com a sua filha, por isso tente abordar o assunto com naturalidade, pois a forma como o fizer vai determinar bastante o quão confortável ela se vai sentir ao fazer-lhe perguntas. Converse com ela, explique-lhe que as alterações que está a sentir no seu corpo são normais e que é natural que sinta curiosidade sobre sexualidade, garantindo-lhe que isso faz parte do desenvolvimento de qualquer jovem. Se não se sentir à vontade para abordar o assunto com a sua filha peça a alguém da sua confiança que o faça, pois é fundamental que ela tenha uma orientação adequada nesta fase tão importante do seu desenvolvimento. Existem bons livros sobre sexualidade escritos para jovens, procure comprar-lhe um.
“O meu filho de 7 anos perguntou-me como se fazem os bebés. É normal? Devo responder? Tenho muito medo de errar, pois fala-se da educação sexual, mas acho que na escola dele não há e eu nunca falei destas coisas com os meus pais. O que devo fazer?”
Soraia, Braga
Cara Leitora,
É bastante natural que o seu filho tenha curiosidade com questões de sexualidade e lhe coloque essas perguntas. A informação necessária nas várias idades é diferente para o esclarecimento dessas dúvidas, pelo que não deve ficar preocupada nem assustada. Deve ser sincera e responder às perguntas à medida que surgem, não é preciso explicar tudo, mas também não vale a pena desviar-se do assunto, pois o seu filho compreenderá que este assunto é tabu e não pode falar dele. Agora e noutras alturas ele vai precisar de si para o esclarecer!
Pode falar com os professores ou director de turma sobre a necessidade de fazer educação sexual formal e escolar, mas o seu silêncio ou explicação será bem mais valioso!
Pode comprar online um livro para si sobre o desenvolvimento psicológico e sexual das crianças e adolescentes e encontrar soluções de como lhe explicar a concepção e nascimento, como mãe e educadora. Não invente metáforas que só o deixarão mais confuso (a “cegonha” e as “sementes já não satisfazem a curiosidade de uma criança de 7 anos dos nossos dias).
Tem toda a razão em questionar-se sobre o modo de falar sobre sexualidade com as crianças, e a sua preocupação só mostra como deseja ser boa mãe – procure informação e partilhe esta sua preocupação com outros pais, verá como são comuns as perguntas e encontrará respostas com que se podem ajudar uns aos outros!
"Acho que a minha educação nunca me permitiu ultrapassar certos medos e complexos em relação ao sexo. Como tal, gostava de poder perceber o porquê das diferenças de atitudes e comportamentos que regeram e que ainda regem a educação sexual."
Marta - Seixal
Cara leitora,
Em relação à educação sexual da mulher, existe o mito de que a mulher terá de ser passiva promovendo, desta forma, a culpabilização dos desejos e dos prazeres sexuais da mulher em relação ao homem. A mulher deve mostrar, única e simplesmente, os sentimentos desde que estes nunca sejam transmitidos através das suas reacções corporais. Não se consegue perceber como é que se consegue, numa relação sexual, demonstrar sentimentos sem ter associadas as reações corporais. Ainda hoje, o conceito de prazer não é associado aos conceitos básicos de autoestima e de auto-conceito, que fazem com que haja uma realização da mulher que a possa equiparar com o homem. É necessário à mulher sentir-se amada, desejada e que lhe demonstrem tais factos, mas o que acontece é que devido às frustrações, aos medos e às dicotomias relativas à vivência da sexualidade que lhes foram incutidas durante o seu desenvolvimento, ao não demonstrarem nada, não recebem nada. Todo este tipo de educação vai produzir aquilo a que chamamos Transtornos do Desejo, sendo um dos tipos de Disfunções Sexuais, em que as causas psicológicas e fisiológicas estão interligadas. A repressão dos desejos, o stress, as manipulações e as punições aliadas às alterações hormonais que podem daqui advir, fazem com que a mulher desenvolva, não só grandes desequilíbrios afetivo-emocionais como crises depressivas e frustrações que a vão acompanhar para o resto da sua vida.
Durante muitos anos falar de sexo em casa com a família ou na escola era tabu. Aliás, quem ousasse puxar esse tipo de assunto poderia ser imediatamente acusado de depravado.
Hoje em dia, para além das mentes estarem mais abertas, é essencial que também a escola sirva como meio de educação sexual. Dessa forma, pode evitar-se muitos problemas, tais como as DST (Doenças Sexualmente Transmissíveis) ou gravidezes indesejadas na adolescência.
Por isso, se os seus filhos chegarem a casa com muitas perguntas sobre sexo, referindo que têm dúvidas sobre aquilo que lhes ensinaram na escola, não aja como uma mulher do século XIX.
Ajude a complementar a educação que eles recebem a este nível nos seus estabelecimentos de ensino e esteja seja pronta para responder às suas perguntas, mesmo que de início se sinta um pouco mais envergonhada. Isso só fará dos seus filhos seres humanos mais esclarecidos, capazes de se orientarem sexualmente, sem se perderem pelo caminho.
“Acho que a minha educação nunca me permitiu ultrapassar certos medos e complexos em relação ao sexo. Como tal, gostava de poder perceber o porquê das diferenças de atitudes e comportamentos que regeram e que ainda regem a educação sexual. Pode-me resumir algo sobre este assunto?”
Ana Maria - Sacavém
Cara Leitora,
A principal diferença que nas últimas duas gerações existiram em relação a questões sexuais foram demonstradas através da educação que se deram aos rapazes e às raparigas. Principalmente, criando ideias absurdas e utópicas entre os dois sexos. É por isso que, ainda hoje em dia, o comportamento e as atitudes dos homens é diferente em relação às mulheres. Foi transmitido, durante muitos anos às mulheres, que estas deveriam ser passivas, o que promoveu a sua culpabilização em relação a desejos e prazeres sexuais. Ainda hoje há quem se comporte e eduque desta forma, criando em algumas mulheres frustrações, medos e desequilíbrios que, mais tarde, lhe provoca grandes distúrbios afectivo-emocionais, chamados de Transtornod do Desejo. Não tenha dúvidas, é necessário sentir-se amada para também poder amar. É necessário demonstrar os seus sentimentos através de reacções corporais, pois só assim o outro saberá como “responder-lhe” da mesma forma.
“Sou pai de dois filhos, um com 9 e outro com 12 anos. Gostava que aprendessem algumas coisas relacionadas com a sexualidade por mim, mas não sei se é muito cedo para tratar destes temas com eles…”
Paulo, Cacém
Caro leitor,
A maioria dos pais e encarregados de educação sente alguma dificuldade em discutir assuntos relacionados com a sexualidade com crianças ou adolescentes. Existe muitas vezes o receio de não saber como abordar esses temas, de iniciar esse tipo de conversa cedo demais ou de forma não apropriada. Em alguns casos os pais ou encarregados de educação acham mesmo que se iniciarem esse tipo de diálogo com os jovens estão a dar-lhes autorização para serem sexualmente activos, e por isso optam por não abordar temas de sexualidade com eles. Esta ideia é falsa, pois vários estudos têm demonstrado que os jovens que estão bem informados a nível de sexualidade iniciam a sua actividade sexual mais tarde e de forma mais segura. Por isso não tenha receio e converse com os seus filhos sobre o tema.